O Jardineiro

Esta mensagem é um presente divino dos produtores (Rádio Horizonte) para quem busca um verdadeiro desenvolvimento espiritual.

Extraída de um CD produzido com efeitos que trazem um colorido todo especial aos diálogos, levando os ouvintes a uma profunda reflexão.

Minha esperança é de que se propaguem as maravilhas que me foram proporcionadas ao conhecer, ouvindo e lendo esta mensagem que no meu entendimento é fruto de divina inspiração.

Abraços, paz e bênção
Egídio Garcia Coelho

O Jardineiro

Faixa 01 - Ouvir aqui:

Faixa 02 - Ouvir aqui:

Narrador: A cena é imponente… Toda a terra parece branca… Coberta de um grosso manto de neve… Não há nenhuma erva, nenhuma árvore; que permita ao Viajante recordar que aquelas coisas existem… Só a brancura se perdendo no horizonte… De longe o Viajante se destaca como um ponto negro naquela imensidão… Pequeno, só, mas nos aproximemos a ele, algo muito importante o deve te-lo levado a esta região, uma força superior o deve amparar, porque somente um coração muito valente pode atrever-se a enfrentar esta solidão… Escutemos o que pensa… Unamo-nos a ele nesta difícil peregrinagem…

Peregrino: – Dá-me forças Deus meu… Não me abandones… Muitos dias estou neste caminho e só encontro solidão, frio, desespero… Haverei me equivocado de caminho? Será que me enganou a voz que escutei? Minha visão cada vez mais diminui, a neve e o vento branco me fecham o caminho, mas minha determinação esta tomada… Se não encontro o que busco aqui ficarei… Quando se há visto por um instante a Luz, já não se pode viver sem Ela….

Narrador: Assim pensava o Viajante com passos cada vez mais débeis… Seguia o difícil caminho… A neve que formava se amontoava a sua frente, o envolvia, como querendo detê-lo para não chegar a sua meta… De repente, seu pé resvala e seu esgotado corpo cai… Fica prostrado de joelhos no solo imaculado, seus olhos já quase não vêem, a desesperança vai ganhando seu coração. Mas então o vento varre um pouco a neve que o envolve e a alguns passos mais adiante existe algo… Um contorno borrado que se confunde com a brancura da neve, mas não existe dúvidas… Ali estava o que o Viajante buscava…

Peregrino: – Graças Deus meu… Não me abandonaste…

Narrador: Se levantou lentamente, já não sentia o cansaço, as dúvidas já haviam se dissipado… Avançou extasiado, a cada passo, o suave vento ia se abrindo, deixando ver uma alta muralha que desaparecia em ambos os lados, a sua frente se destacava um Portal de Grossas Madeiras… Nosso Viajante se aproximou cauteloso com alguns instantes de vacilação… Se ergueu e com decisão bateu uma, duas, três vezes… Logo o silêncio… A espera… O receberiam? O considerariam digno? Tudo era tão desolado, tão deserto que chegou a perguntar-se se realmente viveria alguém ali… O frio e a dúvida se faziam sentir cada vez mais… O tempo transcorria e nada… Chamaria novamente, já ia fazer quando percebeu um leve ruído e viu que uma janelinha se abria, através dela pode ver um par de olhos que o observava, atentamente, logo sem trocar palavras voltou a fechar e depois a grande porta se entre abriu… Pesada… Lenta… Talvez há muito tempo que não se abria…

O Sol brilhava esplendoroso iluminando os belos jardins… Reinava uma harmonia que se podia sentir, apalpar, respirar, tudo estava rodeado por caminhos traçados entre as plantas e as flores…

Nos lugares mais distantes se viam cômodos bancos que serviam de repouso e lugar de meditação aos habitantes deste lugar… Se percebia um silêncio muito especial em que se escutava algo indefinido, talvez uma melodia, era um silêncio cheio de vibrações calmantes, relaxantes… Não longe se divisavam grupos de casas brancas com grandes galerias… Por elas iam e vinham os habitantes dedicados a suas tarefas… Lentamente o Viajante tomou consciência de si mesmo, então buscou ao redor alguém a quem dirigir-se… Ninguém havia por perto…

Surpreendentemente em uma curva do caminho se encontrou com um Ancião que com grande atenção estava trabalhando a terra… O Viajante se deteve esperando que o Homem percebera sua presença, mas passaram os minutos e o Velhinho seguia concentrado em seu trabalho… Quando já não pode suportar mais a situação o Viajante arrastou o pé lentamente, mas não houve reação… Então, não restou outro remédio do que falar-le…

Peregrino: – Bom homem, posso interrompe-lo um momento?

Narrador: O Ancião lentamente se voltou apoiando sua ferramenta em um arbusto… Logo seus olhos se cravaram no rosto do Viajante; mas que olhos Senhor; nunca em sua vida nosso Homem tinha visto olhos iguais, olha-los era como observar o céu, ali cabia um universo de beleza, de poesia, de amor… A doçura que emanava deles embriagava, eram tão especiais que nosso Viajante quase cai ao solo de joelhos…

Ancião: – Desculpa-me Irmão não te havia escutado chegar… Ocorre que quando cuido meu jardim, me concentro tanto no trabalho que esqueço tudo que me rodeia… Desculpa-me te peço…

Peregrino: – Senhor, sou eu que peço desculpas… Sou novo aqui… Estou desorientado…

Ancião: – Sim, já percebi que sois novo aqui…

Peregrino: – Recém acabo de chegar ou ao menos isto que acredito, pois comecei a duvidar de meus sentidos externos…

Ancião: – Tens razão… Veja estes muros, eles separam dois mundos… Aqui dentro a realidade é diferente do que se chama comumente realidade… Aqui é realidade, lá só aparência, mas diga-me que andas buscando nestes lugares tão ermos e hostis…

Peregrino: – Bem… Eu busco sabedoria… Busco a Deus…

Ancião: – Ah! Está certo… te propuseste algo difícil… muito difícil…

Peregrino: – O Senhor poderia me ajudar honorável Ancião? Estou perdido, sou nada mais do que um forasteiro e não sei o que fazer…

Ancião: – Ninguém aqui é um forasteiro… Todos somos Irmãos e somos UNO em nossa aparente multiplicidade… Todos sofremos e nos alegramos com todos…

Peregrino: – Que belas palavras dizes, me trazem grande consolo, pois meu coração esta destroçado pelas lutas e erros que deixei atrás destes muros….

Ancião: – Deves ter presente que estas coisas que recém mencionastes são indispensáveis, são parte dos ensinamentos, sem estas experiências não haveria tido forças para chegar até aqui, nem o Guardião te havia permitido entrar…

Peregrino: – Eu me sinto tão pequeno perante sua presença e me considero indigno de estar aqui…

Ancião: – Acalma-te Irmão, não te atormentes inutilmente, Eu também tenho lutado e caído mil vezes…

Peregrino: – Você! Não posso acreditar… Não se vêem cicatrizes…

Ancião: – Claro, o que ocorre é que quando se trabalha duro no sentido correto, as cicatrizes desaparecem, é como se tomara um novo corpo purificado sublimado pelo fogo da dor… Te posso assegurar que muito tenho sofrido, mas não obstante sinto que todavia muitas impurezas enchem meu Ser… Só sei que existem dois meios pelos quais aprendemos os ensinamentos da vida… Um deles é a Dor, que purifica, mas é muito lento, é o caminho que transitam os que vivem no mundo em que tu vens, por isto se chama Vale de Lágrimas… Entendes?

Peregrino: – Sim, sim mas qual é o outro caminho?

Ancião: – O outro é mais difícil de explicar, custa mais compreendê-lo… o outro caminho para aprender ou nos aproximarmos a Deus… é o caminho da Consciência Desperta…

Peregrino: – A Consciência Desperta? Como assim?

Ancião: – É difícil, já te disse, só posso agregar que quem encontra este caminho ou que desperta sua consciência, já não necessita mais sofrer, a dor deixa de ser seu mestre para ser agora a compreensão, compreensão das Leis Cósmicas que são seu Guia…

Narrador: O irmão forasteiro, admirado perante a sabedoria deste humilde Jardineiro sentiu pressa em obter tudo que imaginava se encontrar naquele lugar… Quanta sabedoria poderia obter dos Mestres deste monastério se o simples Jardineiro sabia tanto… O Ancião suspirou profundamente, talvez lia o pensamento do Irmão Peregrino… Com um rosto amável, mas um pouco cansado lhe disse:

Ancião: – Amado Irmão gosta de jardinagem? Porque eu só posso lhe ensinar isto… A trabalhar a terra, a cultivar um jardim, a trabalhar com os elementos da natureza… Compreende-me?

Peregrino: – Bem… Na realidade, tenho caminhado e enfrentado verdadeiros perigos em busca de conhecimento… Perdoa-me esta é a missão que assumi… Não quero feri-lo, mas compreendo que cada um tem uma missão especial…

Ancião: – Isto mesmo, filho, assim é…

Peregrino: – Ao chegar aqui, vi pessoas submergidas em profundas reflexões, concentrando-se em graves problemas… Creio que isto é o que busco… A sabedoria ao mais alto nível…

Ancião: – Tens razão… por agora esse é seu caminho… talvez mais adiante tenhas interesse nisso…

Peregrino: – Me informaram que aqui, neste lugar santo, estava guardada toda a grande sabedoria… todos os segredos… Isso é o que venho buscar, esse é o caminho que entendo;.. deve chegar a Deus.

Ancião: -Tens razão novamente… esse é teu caminho. Olhe… Vê aquelas casas brancas sobre a colina…

Peregrino: – Sim, sim vejo…

Ancião: – Bem, vá até lá… Talvez entre suas paredes encontres o que busca… Existem muitos Irmãos dedicados a estes estudos e se fores digno e se te esforças para alcançar a sabedoria, talvez possas ver a nosso Superior… O Grande Mestre…

Peregrino: – Obrigado Irmão, obrigado… Espero que não esteja zangado comigo…

Ancião: – Não te preocupes e já sabes… Eu sou só o Jardineiro…

Peregrino: – Prometo-lhe que se algum dia quando tenha tempo virei, para que me ensines a cuidar o jardim e adorna-lo com lindas flores…

Ancião: – Espero… Trata de te acomodar… Há muita satisfação trabalhar a terra… Plantar sementes… Vê-las germinar, crescer… Ver como se convertem em flores e em árvores… Siga filho meu… Vai com Deus que meu coração te acompanhará também…

Narrador: O Irmão Forasteiro se despediu amavelmente do Ancião que voltou paciente, humilde e silencioso a suas tarefas… Com passo apressado se encaminhou ao grupo de brancas casas e ali se instalou… Muitos meses passou o Viajante estudando… Aprofundou as matemáticas que já dominava, mas conheceu o lado místico dos números, seu significado oculto… Se instruiu na arte de curar, que também conhecia antes, mas estudou e compreendeu como funcionam as Leis Cósmicas através da natureza… Praticou, logo, as artes, neste estado de exaltação que dá a visão mística… Participou de inúmeros fóruns, classes e experiências alcançando grande sabedoria… Já concluído todos os estudos o Irmão Forasteiro se considerou pronto para solicitar uma entrevista com o Grande Mestre… Chamou então ao Guia, que se apresentou rapidamente…

Peregrino: – Amado Irmão, creio que é chegado o momento tão esperado de entrevistar-me com o Venerável Mestre, porque aprofundei todos ensinamento que se dão aqui… Creio estar preparado…

Guia: – Bem, antes gostaria de lhe perguntar algo muito pessoal e quero que me responda com a mas absoluta sinceridade, isto é fundamental…

Peregrino: – Pergunte Irmão o que queiras. Vou responder com toda minha sinceridade…

Guia: – Diga-me Irmão… Como te sentes com respeito a Deus?

Peregrino: – Não entendo muito bem tua pergunta… Pode me explicar do que se trata…

Guia: – É simples… Como te sentes… Mais perto dele? Mais perto do fim?

Narrador: O rosto do forasteiro havia se ensombrecido, já não irradiava tanta segurança… Olhou ao Irmão Guia que o contemplava cheio de amor e compreensão… Certamente aquele Irmão era sábio e havia tocado no fundo de seu coração… O dia era claro, fresco, transparente, a harmonia do lugar fazia pressentir a presença de Deus em cada coisa… Nas flores… Nas aves… Na brisa… Tudo era um canto de glória ao Criador… O Guia retomou a palavra…

Guia: – Sim Irmão, qual é nossa meta? Para quê, e para onde caminhamos?

Peregrino: – Não diga mais nada… Compreendo… Responderei como me pediu, com sinceridade… Pensei que aprendendo o que se ensinava aqui me aproximaria a perfeição, me levaria a Deus, mas confesso com pesar que estou um pouco desiludido… Não me sinto como tu dizes… Mais perto de Deus… Lamento muito, mas creio que fracassei…

Guia: – Bem, muito bem…

Peregrino: – Como dizes, por acaso zombas de mim?

Guia: – Não, não ao contrário, digo bem porque se sua resposta houvesse sido outra, se tivesses manifestado conforme com o que aprendeste, nada mais poderíamos fazer por ti, mas se realmente te sentes desconforme com o caminho seguido ou com os resultados obtidos, então sim poderemos iniciar a trabalhar sério…

Peregrino: – Trabalhar sério! E tudo que estudei e aprendi nestes longos meses?

Guia: – Isto é só a preparação… Recém agora começa o verdadeiro trabalho… Preparamos a terra para receber a semente…

Peregrino: – Queres dizer que não estou pronto para ver ao nosso Superior?

Guia: – Exato… Todavia creio que não é o momento…

Peregrino: – Bem diga-me… Que vou fazer agora? Porque já percorri todos os estudos. Todos que se ensina aqui…

Guia: – Não todos… Agora vem o mais difícil… Deves aprender jardinagem…

Peregrino: – Jardinagem?

Guia: – Sim Irmão, jardinagem… Aquele que não sabe cultivar seu jardim não pode ver a ELE… Só será por pouco tempo, pois quando fales com o Mestre da Jardinagem compreenderá como é importante este trabalho… Esta arte…

Peregrino: – Deixa-me perplexo, mas está bem… Minha decisão é inquebrantável… Minha meta é chagar a ELE… Obter a iluminação, não cederei em meu empenho…

Guia: – Isto é o que gostamos em ti, porque muitos fraquejam em nossas provas de paciência e humildade…

Peregrino: – Que devo fazer Irmão Guia?

Guia: – Amanhã, com as primeiras horas da aurora, apresenta-te ao Irmão Jardineiro e diga que vais para que te ensines a cultivar o jardim… Diga textualmente: “Mestre, encontrei tempo para dedicar-me a cultivar meu jardim…” Ele compreenderá… Desejo-te muita sorte, porque a tarefa não é fácil, mas o prêmio justifica todo o esforço…

Peregrino: – Muito obrigado Irmão…

Narrador: O Guia se afastou em passos rítmicos… Tudo nele irradiava harmonia, nosso amigo o olhou afastar-se… A tarde começava a declinar… Era a hora propicia para a meditação e neste minuto a necessitava mais do que nunca… Sua mente trabalhava arrebatadamente… Queria compreender… A manhã o surpreendeu quase sem haver dormido… Se levantou apressado, fez seus trabalhos místicos e partiu ansioso ao lugar que tantas vezes conversava com o Jardineiro… Queria chegar antes Dele para observar o jardim. Ver se descobria algo especial, para que o guiara… Chegou ao lugar quando ainda não se apagavam as últimas estrelas… O sereno regava ricamente as plantas e as flores… Havia um mágico encanto naquela hora que precedia a saída do Sol… O silêncio só era quebrado por um compassado e rítmico golpe… Nosso amigo ficou surpreendido, pois ali estava o Ancião trabalhando encurvado sobre a terra…

Peregrino: – Bom dia, Irmão Jardineiro, venho dizer-lhe que encontrei tempo para cultivar meu jardim…

Narrador: Ante estas palavras o Ancião ficou quieto, estático, por breves momentos… Logo, se levantou em todo sua estatura… Não era nem tão pequeno, nem tão velho…

Ancião: -Bem vindo aprendiz de jardineiro… Alegro-me que hajas encontrado tempo para aprender este difícil trabalho…

Peregrino: – Mestre, não descansas nunca…

Ancião: – Não, uma vez que comeces a trabalhar a terra e a cultivar o jardim, não podes descansar jamais…Deves dedicar-lhe todas as horas do dia e ainda mais… Já compreenderás, porque é assim… Ocorre que a terra se faz fértil e tudo, inclusive as maldades podem prosperar mais rapidamente… Devemos trabalhar muito…

Peregrino: -Realmente, não compreendo tudo isto… Para que me servirá cultivar a terra?

Ancião: – Primeiro devemos saber qual a terra que vamos cultivar, isto é o fundamental… Agora perdoa-me um momento… Espere-me que logo seguiremos conversando… Tenho que arrancar estas ervas más que crescem por todos os lados… Vem, vem aqui acerca-te e observa… Vês? Deveis aprender a defender teu jardim destas maldades…

Peregrino: – Porém, não vejo nada de extraordinário, Mestre.

Ancião: – Claro, porque agora ainda são muito pequenas. Se as deixas crescer logo estas cizânias taparão e sufocarão as mais formosas flores do jardim…É preciso arrancá-las com a raiz, porque esta maldade é muito perigosa…

Peregrino: – Como se chama esta erva, Mestre?

Ancião: – Esta erva arruína muitíssimos jardins… Sabes,… se chama orgulho…

Peregrino: – Oh! Que cego tenho sido todo este tempo?

Ancião: – Não te censures filho meu… Os ensinamentos chegam a seu devido tempo… Antes não havias compreendido nada… É como diz o refrão: “Quando o Discípulo esta pronto, o Mestre aparece…” Se fores bom observador, poderás apreciar que o Mestre sempre esta presente. Só que não o vemos… Passamos ao seu lado e não o reconhecemos…

Peregrino: – Tens razão… Isto me trás a memória que numa conversação anterior o Senhor mencionou que há dois caminhos para aprender… Um é o da dor e o outro era o despertar da consciência… Porque não me falas mais deste último… Que é despertar?

Ancião: – Simplesmente isto… Despertar é estar alerta…

Peregrino: – Sim, mas alerta a que?

Ancião: – Ai esta a chave… Recorda que eu sou o jardineiro do meu jardim e tu deves ser o jardineiro do teu jardim… Ninguém pode cultivar a terra alheia… E tu já te deu conta de que jardim e de que terra se trata? Bem, escuta, Irmão Forasteiro, devemos estar muito atentos vigilantes para selecionar as sementes que plantamos em nosso jardim, em nossa mente, pois esta terra é muito fértil. E qualquer semente que traga o vento ou jogue um mal intencionado… Qualquer semente, te repito, crescerá forte e viçosa… Por isto, temos que vigiar…

Peregrino: – Compreendo tuas palavras, Irmão Jardineiro. Sem dúvida é um trabalho difícil… Porém, esta é a chave para chegar a Deus?

Ancião: – Assim é… Devemos cultivar nosso jardim interior, nossa mente, porque daí sairá as flores que obsequiaremos a Deus e que Ele tanto lhe agrada…

Peregrino: – No que posso lhe ajudar?

Ancião: – Por hoje já é o bastante… Retira-te agora a solidão e medita sobre tudo que falamos… Amanhã seguiremos…

Narrador: Profundas meditações ocuparam a mente de nosso amigo forasteiro… Um amplo panorama se abria ante ele… Esta noite em sonhos, seguiu trabalhando afanosamente a terra que era dura e ressequida…Nunca seçavam os golpes de sua enxada… Estava empapado, suado pelo esforço… As maldades o queriam aprisionar e ele lutava desesperadamente… Quando despertou o corpo lhe doía a tal ponto que chegou a duvidar que tudo havia sido um pesadelo…E era difícil separar o real do imaginário. Prosseguiu em caminhada para o jardim do Mestre… Encontrou-o sentado, pensativo…

Peregrino: – Bom dia Mestre!

Ancião: – Bom dia, filho!

Peregrino: – Não havia escutado os golpes de tua enxada…

Ancião: – Olha… De vez em quando se faz necessário parar e olhar o resultado do trabalho… É necessário separar-se um pouco do cenário do mundo, com seus ruídos… Ver… Observar os resultados como se fossemos estranhos… Analisar as plantas que hão crescido, ver as cores das flores… Enfim, analisar e meditar sobre tudo o que se esta fazendo…

Peregrino: – Ah! Mestre, se você soubesse, que noite passei… Tive um pesadelo terrível… Quando despertei estava como arrasado, dolorido…

Ancião: – Assim tem que ser, filho… Não só de dia trabalhamos no jardim, a noite também… E é neste momento que podemos receber ajuda ou instruções especiais… O trabalho é imenso, mas também a ajuda que recebemos é grande… Os Mestres jamais nos colocam provas que sejam superiores as nossas forças…

Peregrino: – Cada vez estou mais maravilhado…

Ancião: – Bem… Olha, agora quero te levar para que vejas um jardim… Vem… Acompanha-me…

Narrador: Juntos cruzaram o imenso parque… Atravessaram largas avenidas margeadas por lindas árvores multicores, até que se deteram diante de um formoso jardim…

Ancião: – Olha este jardim… Gostas?

Peregrino: – Sim… Realmente tem flores preciosas, uma distribuição muito harmoniosa…

Ancião: – Este é teu jardim… Aqui trabalharás…

Peregrino: – Meu jardim?

Ancião: – Sim… Aqui se refletirá o trabalho que faças em tua mente… Assim teu trabalho interior se refletira fora…

Peregrino: – Amado Irmão, que privilégio é ter você como Mestre neste trabalho…

Narrador: O forasteiro em um impulso de amor, tomou a mão do Ancião e beijou… Os olhos do Mestre brilharam de uma forma muito especial, envolvendo o discípulo em uma luz imperceptível para os mortais… Por fim o Mestre lhe disse:

Ancião: – Não esqueças que o trabalho deves fazer tu, só… Eu te indicarei as técnicas, o resto é contigo… Deve sair de dentro, aí está o verdadeiro Mestre, esse sim é um grande jardineiro!

Peregrino: – Por favor, indique-me por onde devo começar?

Ancião: – Diga-me, o que vês no jardim?

Peregrino: – Vejo, belas flores distribuídas por todas as partes…

Ancião: – Sabes o que são estas flores? São teus conhecimentos… Algumas flores a cor não gosto totalmente… Vês aqueles cravos de cor vermelhos? Eles representam uma paixão dominante, que tornam feio a harmonia do conjunto. Deves trabalhar até que esta planta dê flores de cor branca ou um vermelho mais suave…De que serve ao homem, por exemplo, cultivar a arte, uma arte sublime e que eleva até os céus, se toda sua obra a diminui com suas paixões mundanas de orgulho, vaidade ou egoísmo? Estas são as cores que tem algumas de tuas flores, cores de inveja e da dúvida… Por isto se pode ter muito conhecimento e estar muito longe de Deus…

Peregrino: – Mestre, estou muito apenado… Sinto-me indigno de estar aqui… De estar junto do Senhor…

Ancião: – Não filho, não… O que ocorre é que deves trabalhar duro para purificar e embelezar isto. Para isto estamos aqui na terra… Na maioria das vezes, não nos damos conta da maldade que afoga nossas rosas… São tão próprias do jardim, que até que não tropeçamos com elas e nos golpeamos… Não as vemos ou seja não tomamos consciência destes defeitos… Quem se chama a si mesmo orgulhoso, egoísta ou cruel? Ninguém… Todos se justificam, dizendo: – Não sou orgulhoso, eu realmente valo mais que os demais. -Não sou egoísta isto ganhei e é meu… Não sou cruel, só justo… Vês? A maldade se oculta muito habilmente…

Peregrino: – Quanta sabedoria há em tuas palavras…

Ancião: – Porém, muito mais encontrará ai dentro, em teu peito…

Peregrino: – Por onde começo… A tarefa me ocorre ser gigantesca.

Ancião: – Creio que por hoje tens bastante… Retira-te novamente a solidão e medita sobre tudo isto… Mas antes quero que escutes as palavras do maior jardineiro que já passou sobre esta terra: o chamavam Jesus, o Filho de Maria. Disse sabiamente: “Há muitas árvores,… nem todas dão frutos,… há muitos frutos,… nem todos se pode comer… Muitas também são as classes de conhecimentos, mas nem todos tem valor para os homens…”

Narrador: Na solidão do bosque passou todo o dia o Irmão forasteiro… Cada árvore, cada flor, cada pássaro adquiria um novo significado, uma nova dimensão. Outra vez aquela noite, sonhou… Em sonhos chorou e quando despertou o travesseiro estava molhado e seus olhos vermelhos… O jardineiro interno havia estado trabalhando toda a noite… Muito tempo trabalhou em seu jardim, sob o olhar atento de seu Mestre… Pouco a pouco as flores foram mudando de cor… Os baixos desejos foram sendo substituídos por desejos generosos e cada vez se unia mais a Deus… Cada dia se desprendia mais do superficial e mundano… Um dia consultou aflito ao seu Mestre…

Peregrino: – Mestre, estou um pouco confuso… Hão começado a sair algumas ervas que não conheço ou seja que não plantei… Que significa isto?

Ancião: -Já te expliquei uma vez… Isto significa que em nosso jardim não só crescem as sementes que nós plantamos… Qualquer semente pode prosperar na terra fértil… Seja útil ou nociva… Portanto devemos estar atentos ao que entra em nosso jardim… É que pode vir pelo ar ocasionalmente ou ser jogada por um mau-intencionado… Insisto devemos selecionar e controlar a qualidade das sementes… Em nossa mente alguém sussurra um pensamento e em seguida este adquire vida própria… E logo se é nocivo, devemos lutar para arranca-lo… Por isto devemos estar sempre atentos…

Peregrino:- Outra coisa, Mestre. Segui todas suas instruções, mesmo assim crescem algumas plantas raquíticas com suas folhas amarelas… Haverei me equivocado?

Ancião: – Hás removido bem a terra?

Peregrino: -Sim, Mestre…

Ancião: -Hás regado também os brotos novos?

Peregrino: – Sim…

Ancião: -Então veremos o que anda mal… Ah! É isto, vês… Estas árvores que rodeiam teu jardim… Bem, são tão frondosas e tem tantos ramos que não deixam passar o sol… As plantas não prosperam. Estas árvores simbolizam as ciências mundanas que preenche tua mente. Há muitos conhecimentos que, às vezes, nos impedem de ver a realidade; nos impedem de ver a Luz… Devemos podar estas árvores para que deixem passar a Luz. Por isto a menos que sejamos puros e inocentes como crianças, não podemos entrar no Reino dos Céus…

Peregrino: – Isto significa que devo derrubar estas árvores; significa que devo viver na ignorância?

Ancião: – Não filho, não… Só deves podar os ramos que impedem entrar a Luz e o ar…Uma vez que hajas encontrado a verdade por outro caminho, o interior, verás como se junta com a ciência e como esta cobra outra dimensão e outro significado diferente que antes tinha…

Peregrino: – Muito tenho que meditar sobre suas palavras, para compreender a fundo a verdade. Porém, recordo em última instância isto, as plantas recebem a vida do sol, símbolo da luz… Nós também dependemos da vontade infinita de Deus para atravessar a Senda. Por isto sempre devemos confiar-nos a sua onipotência…Sem Ele nada somos… Antes de ir-me, uma última consulta Mestre… Outro dia um bando de pássaros invadiu meu jardim, eram horríveis de um aspecto feroz e arrancaram flores, comeram muitas sementes. Se continuar assim podem destruir meu jardim… Que faço? Devo defender-me?

Ancião: -Filho meu, se tratam de destruir teu jardim deves lutar valentemente, empenhando a vida nisto… A todo custo deves afugenta-los, deves compreender que eles não tem nenhum poder sobre ti. Tem só o poder que tu lhes dês… Os pássaros são as idéias e os pensamentos negativos, as maldições e ignorância que nos submergem nas sombras… São os fantasmas que tratam de deformar nossos próprios conceitos, afasta-os de teu jardim. Tem sempre presente, não podemos impedir que bandos voem sobre nosso jardim, todavia podemos impedir que façam seus ninhos nele… Reflexiona sobre tudo que temos falado, tira tuas próprias conclusões e, o mais importante, aplica-as em tua vida diária…

Narrador: Muito trabalhou o Irmão Forasteiro em seu jardim… Pouco a pouco se foi produzindo uma mudança nele… As flores eram brancas, azuis, puras, esbeltas quase já não havia maldades em sua terra… Uma paz imensa e uma grande harmonia com as Leis Cósmicas iluminavam seu rosto… A impaciência que antes o dominava, a inveja que alguma vez o atormentara, a dúvida, o egoísmo, tudo havia mudado, purificado…O Mestre que seguia atentamente o progresso de seu discípulo, lhe falou assim certo dia…

Ancião: – Querido Irmão Forasteiro, tens feito grandes progressos… Aprendeste a cultivar teu jardim… Creio que já esta muito próximo o dia em que teu mais caro anelo seja satisfeito…

Peregrino: – Se refere a entrevista com o Grande Mestre?

Ancião: – Sim… Tenho te observado e comprovei que hás purificado suficientemente teu corpo para resistir a sua presença… Deverás, portanto preparar-te durante 3 dias… Faças jejum, meditação, então visitarás a Catedral dos Sons… Para tudo isto te espera um Guia…

Peregrino: – Não trabalharei mais junto ao Senhor?

Ancião: – Não, agora deves seguir tu só o caminho… Esta é nossa despedida…

Peregrino: – Não me considero preparado… Gostaria de ficar mais a seu lado… Um tempo mais…

Ancião: – Querido Irmão, já sabes o necessário.Agora tua missão será viajar pelo mundo tratando de jogar sementes nos jardins que encontrares em teu caminho… Compreende? Serás um novo Semeador…Um dos que andam silencioso trabalhando pelo grande jardim do Senhor…

Peregrino: – Mestre, sentirei muito sua falta…

Ancião: – Eu também filho meu… mas cada um tem sua missão na vida… e devemos cumpri-la cabalmente… ainda que fique no caminho, dores de nossa própria carne. Já chegou o teu dia…

Peregrino: – Por favor, sua Benção…

Ancião: – Filho… Não torture mais nossos corações…

Narrador: O forasteiro se havia prostrado aos pés do Mestre… O Ancião fez um símbolo sobre a cabeça do Discípulo. Logo colocou suas duas mãos sobre os ombros e elevando seu olhar para o céu… Murmurou…

Ancião: – Senhor, protege-o…

Narrador: Logo ajudou a levantar-se o Irmão Forasteiro… No ar se percebia uma intensa vibração que parecia sair do peito do Mestre, de seus olhos brotavam uma doçura impressionante. As árvores mexeram suas folhas agitadas por uma estranha brisa… Pareciam despedir-se de seu amigo… O perfume das flores se expandiu com mais força por todo o lugar… No jardim do forasteiro um botão de rosa se abriu imenso e de cor vermelho como o fogo abrasador do amor que ardia naqueles corações… Tremendo de emoção se dirigiu a sua habitação… Ali permaneceria, o Irmão Forasteiro, preparando-se imerso em profunda meditação e contemplação… Sua alma estava extasiada, como se houvesse cruzado um umbral de uma nova dimensão. O tempo carecia de significado… Ao concluir-se o terceiro dia, o Guia apresentou-se novamente….

Guia: – Irmão, te conduzirei à Catedral dos Sons e ai terminarás tua purificação… Então estarás pronto para se reunir com a Magna Assembléia…

Peregrino: – Te sigo respeitado Guia…

Guia: – Na Catedral sentirás uns sons muito especiais… Ai, receberás vibrações que elevarão tua alma a um estado especial em que poderás comungar com os Mestres Cósmicos tanto quanto permita tua própria natureza… Em algum momento, podes sentir um certo temor…Logo passará … Que nada perturbe tua paz interior…Esta lá, naquela suave colina… Acerca-te lentamente para permitir que tua estrutura molecular se harmonize com as vibrações… É fácil, já verás… Eles serão teus guias… Paz profunda…

Peregrino: – Paz profunda, Irmão…

Narrador: A passo lento, se encaminhou para a colina… O lugar era imponente… Longe, a cada lado da cena, uns pequenos bosques interrompiam a ondulante linha da colina… Em seu centro majestosa, radiante a Catedral dos Sons. De longe parecia uma semi-esfera de marfim, com uma agulha em seu centro, apontando diretamente para o céu… Ao ir se aproximando nosso amigo percebeu algo semelhante a um coro gigante… Uma onda de vibrações saiu a seu encontro… Chocou-se contra seu peito, o paralisou… Uma voz interior aconselhou-o a deter-se alguns momentos…Logo, a pressão diminui… Então voltou a avançar lentamente…Os sons eram percebidos cada vez com mais força… As vibrações envolviam todo o seu corpo, faziam tremer junto com elas…Um estado indescritível se apoderou dele… Os sons subiam e baixavam ritmicamente… Parecia que o coração do universo batesse ali nesta mesma Catedral… Por momentos, parecia que seu corpo se dissolvia naquela atmosfera cheia de energia, que subia e baixava do céu a Esfera e desta ao Céu, em constante fluxo… Nosso amigo não via nenhuma porta ou abertura para entrar, mas assim mesmo seguiu avançando atraído por um mágico encanto… Seguiu avançando e penetrou a esfera, já que esta não era sólida… Ali os sons quase não se ouviam, mas se percebiam como uma sensação vibrante por todo o corpo… Finalmente, no centro da sua cabeça uma Luz potente que não feria seus olhos o rodeava, o penetrava tudo era luz… Não podia ver outra coisa que não fosse Luz… Seu corpo parecia perder densidade… Só sua mente conservava sua identidade… Era uma estranha comunhão com o Todo… Não sabia se o que via eram imagens reais ou produtos de suas fantasias, mas diante dele, talvez perto, talvez longe, se desenhava uma mesa coberta com uma toalha branca… Sobre ela, contrastando com sua brancura uma mancha vermelha… Quis avançar, mas uma força invisível o conteve… Aguardou ali, extasiado com uma harmonia como jamais havia experimentado… Os sons alcançaram um ponto máximo… Logo foram baixando de intensidade um tom grave, profundo, soou ao mesmo tempo em que se abria algo parecido como uma porta… O coração do Irmão forasteiro se deteve anelante… E por aquela porta apareceram em perfeitas filas, seres que mais que homens, pareciam Anjos Luminosos… Estava vendo, sentindo, percebendo a presença dos Mestres Cósmicos… Suas pernas se afroxaram e caiu ao solo de joelhos… As mãos entrelaçadas e o rosto banhado em lágrimas… Viu como aqueles Seres se acomodavam em seus respectivos lugares… Tomaram assento, só um permaneceu de pé, alto, firme, indescritível… Sua voz ressoou em todo âmbito da Catedral, potente como um trovão, mas suave às vezes como o arrulho de uma pomba…

Ancião: – Irmãos Amados do Reino da Luz… Viemos a este lugar santo para despedir a um viajante que por seus esforços e por seu amor, alcançou a iluminação… Em nossos sagrados ensinamentos se indica claramente quais as metas que estão dentro do jardim da verdade… O propósito é conduzir ao homem para que passe através dos Grandes Portais deste jardim até que estejamos todos dentro dele… Onde florescem constantemente as flores da verdade e onde se extirpou a cizânia da falsidade. Os Grandes Mestres desta Fraternidade estarão satisfeitos com sua obra… Neste jardim não existem as flores púrpuras das opiniões obcecadas, não existem as flores amarelas dos desejos egoístas, não existem as flores da parcialidade apaixonada e da auto decepção, mas justamente as imaculadas flores azuis e brancas. Flores da verdade simbolizando a pureza e o conhecimento… Para alcançar este jardim nos reunimos de maneira que podemos fazer a viagem juntos… Recebe, pois Irmão Forasteiro nossa benção e nosso apoio, nos momentos mais difíceis da luta estaremos contigo… Segue a senda que Deus te traçou e quando nos chames aí estaremos… Quero dar-te em prova de nosso amor esta rosa vermelha que simboliza o fogo purificador que deve arder em todos os corações daqueles que viram a Luz… Toma… Guarda-a junto a ti…

Narrador: Aquele ser luminoso tomou uma rosa vermelha que estava sobre a branca mesa… Avançou para o Irmão e lhe estendeu a flor… Ele recebeu a rosa daquelas mãos que lhe oferecia… Seu coração bateu descompassado… Aquelas mãos eram conhecidas… Eram as mãos de seu amado Mestre Jardineiro… Levantou timidamente os olhos e olhou aquele rosto iluminado… Sim, ali estava seu Mestre… Quanto tempo juntos e Ele cego, sem compreender que aquele era o Iluminador…

Aqueles olhos, aquele rosto foi o último que viu…

quando despertou, estava estendido na neve branca, imaculada…

Se encontrava perto de um povoado…

Olhou ansioso, buscando seus amigos… Nada havia… Estava só em meio aquela brancura deslumbrante… Se incorporou devagar e a seu lado viu uma mancha vermelha… Levantou-a em suas mãos…

Era uma formosa Rosa Vermelha…

 

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